vendredi, août 29, 2008

O Dia do Soldado

O dia do soldado, passado recentemente, nos impõe uma profunda reflexão sobre a situação das Forças Armadas Brasileiras e na profissão do militar.

Na última terça-feira foi publicada uma reportagem no jornal “O Povo” tratando da situação deplorável do maquinário da nossa Marinha de Guerra. Constatou-se absurdos, tal como termos apenas 1 dos aviões A4 em condições de funcionamento, no porta-aviões Minas Gerais, enquanto assistimos atônitos os anúncios governamentais de descobertas de campos de petróleo gigantesco. O mais trágico é que sabemos que não quem os proteja.

Infelizmente essa situação deplorável não está adstrita somente à Armada. A nossa gloriosa Força Aérea Brasileira também está sucateada. Todos lembramos do episódio em que um avião AT-26 Xavante caiu “de podre” nas matas que dividem a parte administrativa da Base Aérea de Fortaleza e do então 1º/4º Grupo de Aviação, que ficava onde hoje fica o 1º/5º GAv. O que poucos sabem é que, pouco depois do acidente, foram vistoriadas as outras aeronaves, constatando-se que apenas 2 dos 27 Xavantes estavam em condições de operar. Os meus colegas do Colégio Militar de Fortaleza, onde tive a distinta honra de ser Comandante do Grêmio Santos Dumont, entidade dedicada à propagação dos ideais da FAB no CMF, brincavam dizendo que o inimigo não precisava se preocupar em gastar mísseis contra os aviões brasileiros. Eles caiam sozinhos.

Em situação igualmente alarmante encontra-se o Exército Brasileiro. Nossa Força Terrestre ainda hoje utiliza canhões da época da 2ª Guerra Mundial. Recordo-me de certa época em que as guarnições do Exército passaram a funcionar apenas meio período. É que assim, a Força economizava o dinheiro que seria gasto com a ração dos soldados. Devemos recordar ainda que os carros de combate brasileiros estão em situação lamentosa, completamente ultrapassados, representando muitas vezes perigo à vida dos bravos soldados, sempre dispostos a oferecer seu braço forte e sua mão amiga.

Entretanto, no meio de tanta penúria, podemos salvar uma coisa: o soldado brasileiro, que ama seu povo e as cores da bandeira brasileira, jurando nunca permitir que esta seja desonrada, e que está disposto a alegremente dar sua vida em nome da honra e da glória do Brasil.

Infelizmente o povo brasileiro não está pronto para amar em igual intensidade o seu soldado. Sejamos sinceros; se perguntarmos nas ruas, muitos saberão quem é o General Dwight D. Eisenhower, mas poucos reconhecerão o nome do Marechal Mascarenhas de Moraes, comandante da Força Expedicionária Brasileira. Poucos saberão dizer que os bairros Montese e Monte Castelo tem esse nome em homenagem a grandes batalhas travadas pelos pracinhas em sua luta para libertar a Itália.

Esse é o drama do nosso soldado. Amar um país que não o ama, e se armar apenas com a coragem, o espírito guerreiro e as armas obsoletas e carcomidas pelo decurso do tempo.

Valorizemos nossos soldados, pois, como diz um celebre ditado que ecoa na caserna, as Forças Armadas podem passar um século sem ser acionadas, mas não podem passar um minuto sem estarem preparadas.

jeudi, août 07, 2008

Se eu fosse mulher

Certa vez lia um texto que me levantou uma imensa dúvida, um questionamento pelo qual todo homem deveria passar: e se eu fosse mulher?

Aquela dúvida começou a me fazer viajar, lembrar de antigos relacionamentos meus, de amigos, de parentes, até achar alguma resposta que fosse o mínimo convincente.

E se eu fosse mulher? Pois bem. Se eu fosse mulher, eu não aceitaria qualquer presente. Eu só iria aceitar as roupas mais caras, as mais belas jóias e mimos, porque, como mulher, eu sei que mereceria.

Se eu fosse mulher, com certeza seria muito vaidosa, me preservando sempre para meu homem.

E falando nele, também, com ele, não seria cheia de pudores. Deitar-me-ia nua com ele, e ouviria alegremente a musica que emanasse de seu ventre.

Se eu fosse mulher, me dedicaria ardorosamente à família, como só uma mulher consegue fazer.

Se eu fosse mulher, andaria com toda graça, mas sem a futilidade de algumas, para que todos me olhassem, admirados com a graciosidade, e ainda assim surpresos.

Mas não sou mulher. E o que posso fazer é apreciá-las, como gênero, e, entre elas, amar aquela que escolhi, em toda sua singularidade.

Homenagem ao grande poeta e professor, o imortal Dimas Macedo.

mercredi, juillet 30, 2008

Apenas me sentir um pouco melhor

Minha cara,

Ultimamente venho me sentindo muito perdido, sabe? É que as coisas estão tão diferentes do que eu planejei. Parece que eu fiz algo errado e agora é como se um dia fosse igual ao outro, sempre com o mesmo medo e sofrimento. Eu passo o tempo inteiro pensando “meu Deus, como eu preciso de uma mudança”. O chato é que a mudança nunca vem.

Eu sei que eu tenho que deixar pra lá, afinal as coisas acontecem sempre por algum motivo, mesmo que a gente não saiba qual é. É que eu nunca tinha encantado alguém, não da forma que aconteceu, pelo menos, e agora eu preciso de sua ajuda, preciso que você me diga o que fazer.

Lhe procuro porque ninguém mais me entende. Todos vêm um rosto sorridente, mas ninguém, além de você, minha cara, percebeu que minha alma chora por dentro.

Eu tou cansado de me segurar à coisas do passado, sabe? Às vezes fica difícil de ver através dessa bruma que fica ao meu redor. Dessa vez preciso de ajuda, e estou aqui, pedindo pra você.

Espero, profundamente que minha cara possa me ajudar. Você sabe que eu farei de tudo, contanto que me sinta um pouco melhor.

Atenciosamente,

Steven.

Off: Um doce para quem adivinhar a musica em que este texto se baseou. Dica: o Santana toca guitarra nela.

dimanche, juillet 20, 2008

O pai

Ele era um sujeito que sempre teve tudo na vida. Tinha um pai rico, que sempre fazia tudo por ele, mas, como todo filhinho de papai, nunca estava satisfeito com o que tinha.


Um dia resolveu tomar coragem de fazer o que sempre quis. Arrumou as malas e foi embora. Seu pai, bondoso como não poderia deixar de ser, resolveu lhe dar sua parte da herança, para que ele pudesse iniciar bem sua vida longe de casa.


Ele ficou sozinho, e isso foi bom. Por um tempo, pelo menos. É que o garoto até tinha tino para os negócios, mas tinha duas fraquezas fundamentais para a ruína de todo homem: uma paixão impagável pelas cartas e uma voracidade igualmente mortal pelas pernas das mulheres.


O garoto montou vários negócios, mas nenhum vingava, já que suas noitadas de poker, sempre regadas a cervejas e beijos de prostitutas eram extremamente caras, e ele sempre acabava gastando o que não tinha.


Por fim, veio a miséria. O garoto acabou virando empregado de uma padaria que ele mesmo montou e vendeu há alguns anos. Ele se via com fome, e pensava em saciá-la comendo os restos que alguns clientes deixavam pelo balcão. Ao pensar nisso, lembrou-se de seu pai, e como seus empregados eram bem tratados. Resolveu então voltar para casa

.

No caminho, ensaiou o discurso várias vezes. “Eu não sou digno de ser seu filho. Trate-me como um de seus empregados” ele pensava. Mas nunca chegou a falar o que planejava. “Meu filho, que era morto, voltou a viver”, dizia o pai, enquanto levantava uma taça do mais caro vinho, aberto em homenagem à sua prole, que voltava para o lar.


Comédias de uma vida nem sempre comedida.

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Boa noite pessoal. Como vocês podem ter notado, eu também sou o filho (não tão pródigo) que a casa torna. Espero também ser recebido de braços abertos nessa minha retomada literária depois de quase um ano de abandono destas paginas. Só espero que vocês, leitores, sejam tão misericordiosos quanto o pai.


Uma boa noite e boa semana para todos.

mardi, août 07, 2007

Olhar Assustado

Seu rosto era sujo. Seus olhos, assustados. Certamente a vida não tinha sido generosa com ele.

Sua forma de andar, rápida e tortuosa, lembrava muito a de um pequeno rato que, cercado por animais mais fortes que ele, tentava sobreviver. Podia aparecer e desaparecer num piscar de olhos.

A visão daquele homem por certo era algo marcante. Era ao mesmo tempo fascinante e assustadora. O fascínio de como ele conseguia viver o dia-a-dia daquela forma, numa vida espartana, e assustadora pelo fato de ser permitido a alguém não diferente de nós viver daquela forma, abandonado, triste, sozinho e com medo, como se alguém fosse aparecer de repente e o levar para uma espécie de canil ou mesmo matar-lhe no ato. Embora não o fosse, parecia muito um ser de estirpe inferior.

Mas aquele homem só se fez cognoscível por uma fração de segundos, logo retornando para as sombras de onde veio.

dimanche, juin 24, 2007

Fogueira de São João

A fogueira de São João mais uma vez iluminava o rosto daquele casal apaixonado.

dimanche, juin 17, 2007

Silhueta

Ele olhava a silhueta dela caminhando contra o sol.

dimanche, juin 10, 2007

Novidades

A melhor coisa que existe é quando, depois de um longo tempo sem se ver, podemos voltar com boas novidades.

Esse é precisamente o caso aqui. Volto das férias com uma excelênte noticia. Estou procurando uma editora para publicar as melhores crônicas desse blog. O livro tem o nome provisório de Ponto e Vírgula.

Espero estar logo nas livrarias, e que todos vcs comprem seus exemplares

dimanche, mai 06, 2007

Recesso

Todos nós precisamos de um pouco de férias. Eu não sou diferente. Tendo em vista o grande cansaço por que tenho passado, o proximo post será apenas dia 10 de junho.

Agradeço a todos os leitores

dimanche, avril 29, 2007

Fim

Agora, no término de sua vida, finalmente percebeu que não havia vivido.

lundi, avril 23, 2007

Ruas escuras da cidade

Seu coração palpitava de emoção, enquanto aguardava calmamente. Observava as pessoas que passavam.

Via um homem de meia idade passando apressado pela rua, olhando para o relógio.

Logo depois, um menino no seu skate.

Continuava aguardando pacientemente, até que ele a vê. Ela passava ali todo dia, jogando seu cabelo casualmente sem se aperceber de seu admirador.

Ele a espreita. Quando a oportunidade aperece, ele salta do matagal, a arrastanto consigo. Ela tenta gritar, mas uma mão lhe cobre a boca. Esperneia. Chora. Geme. Mas agora não tem mais forças para bater as pernas. A vida lhe deixa o corpo lentamente.

Ele, satisfeito, sai do matagal tranquilamente, como se nada houvesse acontecido. E, mais uma vez, se perde nas ruas escuras da cidade.

dimanche, avril 15, 2007

Na Beira do Rio

Ela estava tranquilamente sentada à margem do Rio Ceará, observando o movimento das águas, quando vê aproximar-se um barco desconhecido. Assustada, ela se levanta e corre, a buscar mais alguem para ficar com ela.

Uma rampa desce da embarcação. Em cima dela posa galante um homem branco, com uma roupa reluzente que era desconhecida pela india dos lábio de mel. Ela não pode deixar de ficar encantada com a imagem daquele homem, que mais lhe parecia um Deus.

Quando ele pisa na areia clara, ela chega-lhe perto, tocando-lhe os braços e o rosto, maravilhada. Ele, por sua vez maravilhado com a beleza dos cabelos negros da nativa, deixou-se tocar.

Ela sinalisou para que ele a seguisse, dando-lhe guarita e proteção. Ele, por óbvio, aceitou.

O tompe foi passando. A india aprendeu a língua do homem estrageiro, os seus modos, os seus gostos. Ele encantou-se pela doçura da nativa, pelo seu afinco e paixão.

Não demorou para que os dois se amassem loucamente. E desse amor entre Iracema e Martin, há 404, nasceu a cidade de Fortaleza. Da mistura do branco com o índio surgiu a cultura cearense. Da paixão entre eles, surgimos todos nós.

Fortaleza, parabéns por mais um aniversário.

Comédias de uma vida cada vez mais fortalezense.

dimanche, avril 08, 2007

O mar

Ela olhava atentamente o mar, como quem espera alguém que tarda a chegar. De fato ela gostava de ficar alí.

O mar não lhe cobrava nada.

O mar não se importava se ela tinha passado batom.

O mar não se sentia envergonhado se ela ganhasse mais do que ele.

O mar não virava de costas para dormir logo depois de tocar o corpo dela.

O mar não olhava com desejo outra mulher.

O mar não se importava se ela ganhasse alguns quilinhos a mais.

A única coisa que o mar lhe cobrava era que ela o visitasse de vez enquando, e o observasse calmamente, como ela fazia agora.

lundi, avril 02, 2007

Pela Janela do Carro

Tinha apenas 10 anos de idade. Era a primeira vez que andava no banco da frente do carro. Meus olhos brilhavam como uma estrela no céu. Maravilhado com um mundo que se abria de forma faceira para mim, olhava pela janela do carro.

Na minha rua, pude ver uma porção de senhoras sentadas numa calçada qualquer, conversando animadamente. Talvez estivessem falando sobre o novo ferrorama que tinha chegado na loja de brinquedos da cidade, ou sobre o quanto as crianças da rua, que jogavam bila logo ali, fazem barulho.

Olhava pela janela do carro, mas não era mais menino. Já era um adolescente. Agora via do lado de fora da janela casais felizes, desfilando de mãos dadas pela Praia de Iracema, andando por entre as poucas barracas que haviam por ali. Os via se beijando com paixão e tinha inveja.

Chegando no Mucuripe, observei casas bastante simples, de pescador. O horizonte era decorado pelas velas das jangadas, que voltavam do mar, trazendo peixes e saudades.

Pude ver os prédios crescerem, formando um paredão de concreto na orla. Agora já era um homem adulto.

Ao longe, enxergava uma mulher saindo de uma loja de noivas. Um sorriso largo desenhava-se em seu rosto. Talvez estivesse a pensar na vida de felicidades que a aguardava, ou apenas a lembrar de quando sua mão foi pedida em casamento.

Eu olhava pela janela e via um jovem casal de mãos dadas. Ela o olhava com uma ternura quase materna, enquanto ele acariciava a barriga dela, já grande, carregando o fruto do amor deles, e eu os via, através da janela do meu carro.

Já no parquinho, chamou-me a atenção a mãe que olhava o filho jogar bola com o pai. Os olhos dela transbordavam felicidade. Riu-se quando o pai caiu, derrubando junto a criança, para se abraçarem no chão.

Agora a noite já crescia pela janela do carro, e eu já era um velho senhor.

Num restaurante jantava uma família inteira. Avô, avó, pai, mãe e filhos conversavam acaloradamente. Talvez falassem sobre a neta da vizinha, que aos 20 anos já estava grávida, de novo. Talvez o assunto fosse o neto que, todo bobo, havia comprado um ramalhete de flores para que sua namorada, a primeira de toda a sua vida, o perdoasse pela primeira briga que tiveram. Ou quem sabe estivessem brigando com a menina, que teimava em não comer nada, embora os ossos nos seus ombros fossem cada vez mais evidentes.

Pouco depois do restaurante pude ver um casal de velhinhos sentados num banco na praia. Ela dormia com a cabeça no ombro dele, e ele enrolava os cabelos dela por entre os dedos, da mesma forma que faziam quando eram jovens.

A noite já ia alta. Sabia que meu passeio estava perto do fim. Lembrava de cada detalhe enquanto o motor começava a fraquejar, até que, por fim, ele parou, e eu não podia mais lembrar de nada.

jeudi, mars 29, 2007

Satisfação

Vim aqui só para avisar que, a partir do próximo domingo, as postagens voltarão à normalidade, em regime semanal

dimanche, mars 11, 2007

Mudança

As mudanças são constantes na nossa vida. Algumas delas são para o bem, outras para o mal.

Já novos, começamos a mudar. Mudamos o nosso meio de nos locomover, deixando de engatinhar para andar, desajeitados. Mudamos o nosso jeito de nos comunicar, deixando de chorar para falar.

Na adolescência, mudamos nosso comportamento. Às vezes nos tornamos “aborrecentes”, às vezes não. Deixamos de achar a pessoa do outro sexo a coisa mais nojenta do mundo para passarmos a desejá-las.

Quando adultos, nos mudamos da casa dos nossos pais para a nossa própria casa. Mudamos de namorados, mudamos de roupa, mudamos de ares, mudamos de cidade.

Quando velhos, mudamos novamente. Passamos a andar, ouvir, falar e ver com dificuldade. Nos sedentarisamos num local confortável, quieto, oposto àquele ruidoso com que sonhávamos quando éramos adolescentes.

Mudamos sempre, mas uma coisa nunca muda: o fato de ser humanos, e de que precisamos ser amados. A como eu quero que o amor dela por mim nunca mude.

Nota da edição: No próximo domingo, dia 18, muito provavelmente não haverá post, pois estou de mudança.

dimanche, mars 04, 2007

Eclipse

Eles estavam lá, sentados em umas cadeiras ao lado da piscina na casa dela, esperando começar o eclipse lunar. Já fazia dias que eles falavam sobre assisti-lo juntos. Na verdade, desde pequenos eles queriam presenciar um evento assim. Já eram amigos desde a infância e sempre andavam juntos. Eram como unha e carne, inseparáveis.

Ela estava bastante animada. Sempre teve verdadeira fixação por fenômenos astronômicos. Ela costumava, desde pequena, olhar para as estrelas e desenhar figuras com o pensamento, como que a ligar os pontos naqueles jogos que costumavam vir em revistas infantis.

Enquanto ela apontava para o céu, maravilhada, ele olhava seu entusiasmo com ternura. O tempo passava, e a luz da lua, que refletia nas águas da piscina, era cada vez mais tênue. O rosto dela ficava cada vez mais radiante de emoção, enquanto o rosto dele ia se molhando de um suor frio, como aquele que acomete aqueles que temem algo que não conseguem entender.

Finalmente, a sombra do planeta azul cobre por inteiro o nosso satélite natural. Ambos estão ali, parados, no escuro absoluto, sob um silêncio impenetrável. Era possível ouvir os batimentos cardíacos dos dois, sincronizados um com o outro. Ela estava muito feliz em poder acompanhar aquilo tudo, ainda mais com seu melhor amigo. Ele, por outro lado, estava bastante nervoso. A única coisa que pensava era se finalmente teria coragem de falar, ali naquela escuridão, que a amava como ninguém jamais pudera amar outra pessoa.

dimanche, février 25, 2007

Ela foi embora

Como sentia sua falta

mercredi, février 21, 2007

Quarta-Feira de Cinzas

Na sexta, pegou a Antônia;

No sábado, agarrou a Vitória;

No domingo, dormiu com a Marlene;

Na segunda, fez sexo com Matilde;

Na terça, ficou com a Renata;

Na quarta-feira de cinzas, voltou para o trabalho novamente, solitário, de ressaca, vazio como sempre foi.

dimanche, février 11, 2007

A Melhor Vista do Mundo

Depois de uma longa jornada escada acima, achava-me no topo da famosa caixa d’água da Faculdade de Direito do Ceará (UFC), olhando para o horizonte.

Logo diante de mim revelava-se imponente a Velha Salamanca, mostrando suas salas, auditório e corredores quase de uma maneira envergonhada, como uma mulher vaidosa que, embora ainda seja tão bonita como era nos seus anos de juventude, tenta esconder sua verdadeira idade.

Pouco adiante da velha academia vejo a ponta do obelisco erigido pelo poderoso Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua, em homenagem aos homens justos que partiam para lutar contra a horda fascista que ameaçava a liberdade. Poucos metros depois encontra-se a praça de onde o Grande Mestre olha vigilante, guardando com bravura os nossos direitos, portando seu Código Civil na mão.

Curvo o olhar e vislumbro a Catedral, marco da arquitetura clerical, que se ergue majestosa no centro da cidade, servindo de fortaleza para a fé e espiritualidade de nossa gente.

Logo adiante da Igreja-Mater posse ver o Forte de Schoonenborch, também conhecido como Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, ao mesmo tempo útero e berço de nossa cidade. Ao redor dele nasceu Fortaleza. Nele foi torturada Bárbara de Alencar, mãe do escritor-mor da literatura romântica cearense. Hoje, por uma daquelas peripécias que nos pregam o destino, lá funciona a 10ª Região Militar, também chamada de Região Martim Soares Moreno, em homenagem ao mesmo homem que, em um dos livros de José de Alencar, se apaixonou pela índia dos lábios de mel. Aliás, ela mesma está na praia, aguardando pacientemente pela volta de seu cavaleiro, que está numa longa viagem de quatro anos para Portugal.

Como plano de fundo, posso divisar as velas do Mucuripe, que mais uma vez estão saindo para pescar, levadas por aqueles que sempre honram a tradição do Chico da Matilde, o memorável Dragão do Mar, homem o qual nunca quedou silente frente às injustiças de seu tempo.

Depois de me encantar com a vista do velho centro histórico, caminho pela borda da caixa d’água para olhar o outro lado e ter a melhor visão do planeta: o meu povo, que tem a sorte de morar na cidade mais linda do mundo.

Parafraseando o Grande Maestro, só haverá felicidade no Brasil quando todos se mudarem para Fortaleza.

dimanche, février 04, 2007

Vida de Escritor

Certa vez Rachel de Queiroz disse que escrever na era algo prazeroso, mas um dever quase que imposto a nós escritores. O escritor, pobre diabo, cumpre apenas um mister quase penoso para si mesmo.

Começa orando às musas para que lhe dêem a inspiração necessária. Depois, passa horas diante da tela do computador, ou do papel da máquina de escrever, trabalhando em sua obra como um escultor, entalhando cada palavra, apenas para achar que o que ele escreveu não vale sequer a tinta gasta, deletar (ou amassar) tudo e começar de novo.

Dias depois finalmente se dá por satisfeito, cria coragem e publica, mas não lê sua obra, pois sabe que se ler vai sempre achar que poderia ter escrito algo de forma diferente, melhor. É que não existe melhor crítico que o próprio escritor.

Depois de publicar, espera pacientemente a critica dos outros, já que ele sabe que a dele mesmo será sempre negativa. O pior é que muitas vezes o pobre coitado não tem o “feedback” necessário e continua sempre se achando um fracasso monumental.

Comédias de uma vida de escritor.

dimanche, janvier 28, 2007

Eterna pressão de ser engraçado

Desenhava em seu rosto um sorriso tão falso como o de Gioconda, obra-prima do grande mestre Leonardo Da Vinci. Estava sentado ali, pintando sua face como se nada estivesse acontecendo.

Olhava no espelho, com sua maquiagem toda peculiar, e não se reconhecia. Fazia anos que trabalhava naquilo, e adorava seu trabalho. Naquela noite, entretanto, queria estar em qualquer lugar que não fosse aquele.

Levantou-se mais uma vez e se dirigiu ao picadeiro, ensaiando algumas de suas falas. Bastou que ele fechasse a porta para que seu celular começasse a vibrar, havendo recebido uma mensagem que dava conta do triste destino de sua filha, que estava internada no hospital fazia mais de um mês.

Lá estava ele de novo, diante da platéia, sofrendo a pressão de ser eternamente engraçado e feliz. Mais uma vez o respeitável público ria e aplaudia, enquanto o coração do pobre palhaço deitava-se em lágrimas.

dimanche, janvier 21, 2007

Serra

Estavam em cima da serra de Maranguape. Desfrutavam de uma vista lindíssima, só comparável ao amor de um pelo outro.

dimanche, janvier 14, 2007

Choro

Partia-lhe o coração vê-la chorar.

dimanche, janvier 07, 2007

Sinal fechado



O sinal estava fechado. Ele corre em direção ao carro mais próximo.

- Doutor, você quer que eu limpe seu vidro?
- Não, obrigado!

Um pouco frustrado, segue adiante.

- Doutor, você quer que eu limpe seu vidro?

O motorista continua calado. Ele então começa seu trabalho, o qual executa com bastante eficiência.

- Pronto, doutor.

O motorista simplesmente olha pra frente e dá partida no carro, mudando pra uma faixa mais vaga. Ele, mais uma vez frustrado, segue adiante.

- Doutor, você quer que eu limpe seu vidro?
- Não dou meu dinheiro pra vagabundo.
- Desculpa, doutor.

Não mais resistindo, senta-se humilhado na calçada, com as mãos calejadas pelos anos de trabalho braçal no rosto e as lágrimas correndo-lhe por entre os dedos.

lundi, janvier 01, 2007

A Vida Passa

Estava lá, deitado em sua cama, pensando como foi aquele ano.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Lembrava-se o quanto se divertira jogando bola com os amigos, ao invés de meter a cara nos livros.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Lembrava-se que, todas as vezes que sua mãe mandou-lhe estudar, tinha uma desculpa na ponta da língua. “Não tem dever de casa”, “a senhora não acha que eu já estou bem grandinho?”, “eu já estudei” e coisas do tipo. Como sua mãe era pateta, pensava.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Lembrava-se das festas que ia, mesmo em dia antes de prova, onde enchia a cara, fumava uma e puxava uma carreirinha de leve, mas nada de mal, já que estava com os amigos.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Ele, que tinha tudo para ter uma vida excelente, se afundava mais e mais em sua própria boçalidade e auto-piedade, sem saber como aquilo tudo era ruim. Poderia ter sido um rei, mas foi apenas mais um a terminar na sarjeta.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passou. Ele, infelizmente, não a acompanhou.

lundi, décembre 25, 2006

Leite e Biscoitos

Sua tenra idade, 6 anos, não lhe permitia ficar acordada até muito tarde. “Minha filha, vai dormir”, dizia sua mãe, ao que rapidamente respondia “sim, mamãezinha”, de forma emburrada, enquanto já subia as escadas.

Acontece que ela não conseguia dormir. Permanecia acordada, ali, deitada, mesmo depois de uma festa de natal extenuante. Fixava o olhar no teto enquanto imaginava como deveria ser o bom velhinho. Será que ele era tão gordinho como diziam? Tinha mesmo as bochechas rosadas? Como ele conseguia entregar todos aqueles presentes numa única noite? E Rudolph? Será que realmente seu nariz acendia, iluminando o caminho do trenó natalino? Ela não sabia, mas estava determinada a decidir.

Desceu as escadas, depois de certificar-se que seus pais estavam dormindo. Caminhou até a cozinha para pegar alguns biscoitos e um copo de leite. O seu plano era presentear aquele velho senhor que alegrava as crianças do mundo inteiro todos os natais, para que ele, sentindo-se a vontade, contasse-lhe todos os segredos que ela gostaria tanto de ouvir.

Colocou tudo na mesa e colocou-se a esperar. Olhava para a lareira, que, por motivos óbvios, estava apagada, enquanto andava impaciente de um lado para o outro da sala. Resolveu sentar-se perto da árvore de natal, certa que aquele seria o lugar mais óbvio de esperar o velho São Nicolau. Não conseguia parar de pensar no momento em que finalmente conheceria Papai Noel.

Antes que pudesse imaginar, suas pálpebras lhe pesaram, e logo se achava em sono profundo.

Na manhã seguinte, acordou antes que todos. Ficou muito chateada por não ter conseguido o seu intento engenhoso, até que olhou para o copo de leite e prato onde ela havia colocado os biscoitos. Ambos estavam vazios. Ela então esboçou um largo sorriso. O bom velhinho esteve lá.

Comédias de uma vida cada vez mais crédula e esperançosa.

dimanche, décembre 17, 2006

Luzes de Natal

As luzes de natal, que piscavam nas árvores como lindíssimos vaga-lumes a dançar pela noite, rodeavam-lhes por todos os lados. O som que pairava no ar parecia como o de 100 anjos cantando, todos louvando o criador em um belo coral em uníssono. A torre do relógio estava completamente iluminada, de forma impecável e bela, a iluminar-lhes como se não houvesse mais ninguém ali. Todas as janelas daquele antigo prédio tilintavam com o brilho provocado pelas pequenas lâmpadas coloridas.

Ele olhava para o rosto dela, que se encontrava pousado relaxadamente em seu ombro, encontrava-se iluminado belamente pela ocaso ainda jovem. Estavam ambos sentados, observando o tradicional coral natalino da Praça do Ferreira. Ela olhava o Papai Noel pendurado no relógio, que parecia estar a descer para entregar presentes a todos os que por ali passavam, e ele admirava o rosto dela. Ele observava como o vento lentamente despenteava os seus cabelos de uma forma faceira, e que ele amava tanto. Via a face angelical dela, iluminada de forma intermitente pelas luzes natalinas espalhadas pela praça.

Ela olhava o quão cuidadosamente tudo tinha sido preparado. Gostava tanto da perfeição, e a noite parecia estar muito ao seu gosto. Pensava o quanto ela gostava de ficar ali, sentada, com a cabeça pousada no ombro dele, enquanto fazia em sua cabeça perguntas que só o futuro poderia dizer.

Repentinamente os olhos dos dois cotejam lágrimas de alegria. Estavam tão felizes que seu sentimento corria por suas faces, que eram claras como a lua que estava a os iluminar. Fazia tempo que não experimentavam uma noite tão bonita e romântica quanto aquela. Definitivamente eles estavam perdidamente apaixonados, um pelo outro, e ambos pelo clima sublime do natal.

lundi, décembre 11, 2006

Um dia como outro qualquer

Seria um dia como outro qualquer, não fosse aquela festa toda.

Seria um dia como outro qualquer, não fosse a quantidade de gente conversando, fazendo acordos.

Seria um dia como outro qualquer, não fosse a presença do cheiro de Justiça no ar.

Seria um dia como outro qualquer. Seria, mas felizmente não foi.

Como temos algumas surpresas boas.

Comédias de uma vida que seria como outra qualquer, mas não é.

dimanche, décembre 03, 2006

Ânimo

Ele não tinha mais ânimo para fazer coisa alguma.