dimanche, janvier 29, 2006

Tragédia

Tinha passado horas no bar, depois de ter recebido um telefonema trágico.

Uma loura escultural que há muito o vinha observando finalmente tomou coragem e o abordou no balcão:

- Olá. Está sozinho aqui?

Ele, parecendo conter o choro, apenas disse, com uma ríspidez que por certo a garota não merecia:

- Minha esposa, grávida de sete meses, faleceu há poucas horas. Sinceramente não estou a fim de conversar.

Dito isto, apenas levantou e se retirou do local. Embora estivesse completamente bêbado, entrou em seu carro e chegou são e salvo em seu apartamento. No caminho lembrava de cada detalhe do momento em que recebeu a maldita ligação. Procurava esquecer que justamente naquela manhã, dentre tantas outras manhãs, tinha brigado com sua esposa. Se ao menos pudesse dizer que a amava. Se ao menos soubesse o que ia acontecer...

Sua sala estava tão grande, seu quarto tão triste. Sentou-se na cama e colocou-se a observar a janela, tendo sua mente bêbada inundada por pensamentos que preferia não ter. A culpa o consumia. Achava que aquilo tudo tinha ocorrido por causa dele.

Lembrou-se de uma arma que seu tio o havia dado havia muitos anos, e que estava guardada na gaveta do criado-mudo. A pegou. Ela parecia estar carregada. A única coisa que pensava era "Te amo, amor. Te amo tanto".

dimanche, janvier 15, 2006

Pressa

Vivemos num mundo em que 24 horas não são mais suficientes. Temos tanto o que fazer que o dia não é mais o bastante. Já existem até bancos que funcionam 30 horas por dia. Estamos cada vez mais apressados e fazemos cada vez menos do que costumávamos fazer.

Foi-se o tempo em que conhecíamos todos os vizinhos. Hoje, se algum deles nos pára, dizemos logo “falo com você mais tarde, porque estou atrasado”. Não podemos perder um segundo sequer para dedicar a alguém, mesmo que isso signifique a diferença entre fazer com que o outro se sinta amado ou que o mesmo se coloque diante de uma janela imaginando se alguém se importa.

Foi-se o tempo em que admirar o pôr-do-sol não era perca de tempo. Hoje os casais, no auge de sua pressa, se comunicam apenas por telefone, se casam e apressadamente se separam, sem nunca ter gasto tempo admirando o fim da tarde juntos.

Foi-se o tempo... e o tempo se foi. Passamos pela vida sempre apressados, na ânsia de ter algo melhor, e esquecemos do mais importante: viver.

Comédias de uma vida apressada.

vendredi, janvier 13, 2006

Animais (I)racionais

O ser humano tem muito a aprender com os animais.

O que vale a pena mesmo num relacionamento é o respeito, o amor mútuo e a qualidade do tempo gasto um com o outro.

O bicho homem ainda tem muito a aprender com o ser albatroz.

Os albatrozes vivem com os mesmos parceiros durante toda sua vida, celebrando um casamento de dar inveja à qualquer ser humano.

O sr. e a sra. Albatroz se vêem apenas oito dias por ano, mas se dedicam um ao outro 24 horas por dia. O sr. e sra. Humano se vêem 365 dias por ano, mas, ao somar as horas que dispensam ao parceiro, não somam oito dias.

O sr. Albatroz ajuda a sra. Albatroz, pois não é machista, e reveza o trabalho de chocar os ovos. O sr. Humano chega em casa, senta no sofá, abre uma cerveja e espera que a sra. Humano o trate como um rei.

A família Albatroz não separa seu vínculo mesmo estando em pontos diametralmente opostos do globo. A família Humano encontra-se por vezes na mesma cidade, mas a distância afetiva entre eles extende-se do Sol a Plutão.

O sr. e a sra. Humano não são tolerantes um com o outro. Seus egos por vezes se degladiam ferozmente. O sr. e a sra. Alabatroz se importam apenas com o bem estar do parceiro, deixando as invejas de lado.

O sr. Alabatroz não se importa quando a sra. Albatroz trás mais alimento do que ele ao ninho. O sr. Humano sim.

Comédias da vida de um homem que procura cada vez mais se aproximar do albatroz.

jeudi, janvier 12, 2006

Nova Leitura

Um novo talento surge por entre o cenário de anônimos escritores. Mais um blog foi registrado.


É muito bom ter uma nova leitura, ainda mais quando é de qualidade tão grande. Suponho que este blog se tornará num futuro próximo minha maior influência literária. Trata-se do blog Coisas da Vida, redigido pela excelente escritora Bárbara. Assim como a Alencar, é uma pessoa de extrema inteligência, elegância, sensatez e simplicidade.


Introduzimos, dessa forma, mais uma futura escritora no nosso meio. Mais uma que, como todos nós, se torna uma conhecida anônima, e diversos momentos de felicidade.

mardi, janvier 10, 2006

Juri

Chegou na sua casa vitorioso. Seu cliente, um grande figurão da cidade, havia sido absolvido da acusação. Todos davam o caso como perdido, mas o seu talento o fez vencer. Foi muito bem pago pelo serviço, e fez por merecer. Na outra manhã seu nome estaria estampado no jornal. Devia estar feliz. Devia... mas não estava.

Lembrou-se de ter visto as fotos da cena do crime. A vitima, uma mulher, estava morta, no chão, com um tiro na cabeça. Havia também uma criança, com perfuração de bala na têmpora esquerda. Eram a única família do réu.

Lembrou-se de ler no laudo pericial que as digitais de seu cliente estavam na arma.

Lembrou-se de uma audiência anterior, onde uma testemunha chave deu seu depoimento. Mas nada do que ela falara era verdade. Tudo era forjado para obter um álibi, e ele sabia disso.

Lembrou-se de que há poucas horas sustentou no tribunal do juri a versão de seu cliente, sabendo que tudo não passava de uma grande mentira.

Lembrando de tudo isso percebeu o quanto sua consciência pesava. Vendera sua alma naquela tarde. Admirava a rua do alto de seu prédio. Deserta, vazia, como a vida daquele homem naquele instante. Não aguentou e despencou do alto de toda sua arrogância, atingindo o chão como que a uma pedra, abrindo mais um buraco no asfalto. Por certo ganhou a manchete jornalística que lhe fora prometida para a manhã seguinte.

lundi, janvier 09, 2006

Pequenas Coisas

São as pequenas coisas que fazem a vida valer a pena. Isso é fato.

Tantas pessoas acham que vão encontrar a felicidade na fama, no dinheiro, numa declaração de amor feita em um outdoor. Tolos como uma porta, só saberão que a verdadeira alegria não reside aí depois de penarem longos anos para conseguirem estes objetivos.

Não existe nada melhor que assistir um filme com quem nós amamos, ver a um pôr-do-sol acompanhado da pessoa certa ou ouvir um pouco de jazz com alguém especial. São coisas bastante simples e, entretanto, tão valiosas, quando se sabe o verdadeiro valor delas.

Para ser realmente valioso, deve-se ser pequeno. Uma pequena rosa, uma simples canção, um telefonema na hora adequeda, um luar como tantos outros, um beijo. Todas estas pequenas coisas podem valer mais do que milhões de dolares.

Comédias da vida, simples e repleta de pequenas coisas.