mardi, août 07, 2007

Olhar Assustado

Seu rosto era sujo. Seus olhos, assustados. Certamente a vida não tinha sido generosa com ele.

Sua forma de andar, rápida e tortuosa, lembrava muito a de um pequeno rato que, cercado por animais mais fortes que ele, tentava sobreviver. Podia aparecer e desaparecer num piscar de olhos.

A visão daquele homem por certo era algo marcante. Era ao mesmo tempo fascinante e assustadora. O fascínio de como ele conseguia viver o dia-a-dia daquela forma, numa vida espartana, e assustadora pelo fato de ser permitido a alguém não diferente de nós viver daquela forma, abandonado, triste, sozinho e com medo, como se alguém fosse aparecer de repente e o levar para uma espécie de canil ou mesmo matar-lhe no ato. Embora não o fosse, parecia muito um ser de estirpe inferior.

Mas aquele homem só se fez cognoscível por uma fração de segundos, logo retornando para as sombras de onde veio.

dimanche, juin 24, 2007

Fogueira de São João

A fogueira de São João mais uma vez iluminava o rosto daquele casal apaixonado.

dimanche, juin 17, 2007

Silhueta

Ele olhava a silhueta dela caminhando contra o sol.

dimanche, juin 10, 2007

Novidades

A melhor coisa que existe é quando, depois de um longo tempo sem se ver, podemos voltar com boas novidades.

Esse é precisamente o caso aqui. Volto das férias com uma excelênte noticia. Estou procurando uma editora para publicar as melhores crônicas desse blog. O livro tem o nome provisório de Ponto e Vírgula.

Espero estar logo nas livrarias, e que todos vcs comprem seus exemplares

dimanche, mai 06, 2007

Recesso

Todos nós precisamos de um pouco de férias. Eu não sou diferente. Tendo em vista o grande cansaço por que tenho passado, o proximo post será apenas dia 10 de junho.

Agradeço a todos os leitores

dimanche, avril 29, 2007

Fim

Agora, no término de sua vida, finalmente percebeu que não havia vivido.

lundi, avril 23, 2007

Ruas escuras da cidade

Seu coração palpitava de emoção, enquanto aguardava calmamente. Observava as pessoas que passavam.

Via um homem de meia idade passando apressado pela rua, olhando para o relógio.

Logo depois, um menino no seu skate.

Continuava aguardando pacientemente, até que ele a vê. Ela passava ali todo dia, jogando seu cabelo casualmente sem se aperceber de seu admirador.

Ele a espreita. Quando a oportunidade aperece, ele salta do matagal, a arrastanto consigo. Ela tenta gritar, mas uma mão lhe cobre a boca. Esperneia. Chora. Geme. Mas agora não tem mais forças para bater as pernas. A vida lhe deixa o corpo lentamente.

Ele, satisfeito, sai do matagal tranquilamente, como se nada houvesse acontecido. E, mais uma vez, se perde nas ruas escuras da cidade.

dimanche, avril 15, 2007

Na Beira do Rio

Ela estava tranquilamente sentada à margem do Rio Ceará, observando o movimento das águas, quando vê aproximar-se um barco desconhecido. Assustada, ela se levanta e corre, a buscar mais alguem para ficar com ela.

Uma rampa desce da embarcação. Em cima dela posa galante um homem branco, com uma roupa reluzente que era desconhecida pela india dos lábio de mel. Ela não pode deixar de ficar encantada com a imagem daquele homem, que mais lhe parecia um Deus.

Quando ele pisa na areia clara, ela chega-lhe perto, tocando-lhe os braços e o rosto, maravilhada. Ele, por sua vez maravilhado com a beleza dos cabelos negros da nativa, deixou-se tocar.

Ela sinalisou para que ele a seguisse, dando-lhe guarita e proteção. Ele, por óbvio, aceitou.

O tompe foi passando. A india aprendeu a língua do homem estrageiro, os seus modos, os seus gostos. Ele encantou-se pela doçura da nativa, pelo seu afinco e paixão.

Não demorou para que os dois se amassem loucamente. E desse amor entre Iracema e Martin, há 404, nasceu a cidade de Fortaleza. Da mistura do branco com o índio surgiu a cultura cearense. Da paixão entre eles, surgimos todos nós.

Fortaleza, parabéns por mais um aniversário.

Comédias de uma vida cada vez mais fortalezense.

dimanche, avril 08, 2007

O mar

Ela olhava atentamente o mar, como quem espera alguém que tarda a chegar. De fato ela gostava de ficar alí.

O mar não lhe cobrava nada.

O mar não se importava se ela tinha passado batom.

O mar não se sentia envergonhado se ela ganhasse mais do que ele.

O mar não virava de costas para dormir logo depois de tocar o corpo dela.

O mar não olhava com desejo outra mulher.

O mar não se importava se ela ganhasse alguns quilinhos a mais.

A única coisa que o mar lhe cobrava era que ela o visitasse de vez enquando, e o observasse calmamente, como ela fazia agora.

lundi, avril 02, 2007

Pela Janela do Carro

Tinha apenas 10 anos de idade. Era a primeira vez que andava no banco da frente do carro. Meus olhos brilhavam como uma estrela no céu. Maravilhado com um mundo que se abria de forma faceira para mim, olhava pela janela do carro.

Na minha rua, pude ver uma porção de senhoras sentadas numa calçada qualquer, conversando animadamente. Talvez estivessem falando sobre o novo ferrorama que tinha chegado na loja de brinquedos da cidade, ou sobre o quanto as crianças da rua, que jogavam bila logo ali, fazem barulho.

Olhava pela janela do carro, mas não era mais menino. Já era um adolescente. Agora via do lado de fora da janela casais felizes, desfilando de mãos dadas pela Praia de Iracema, andando por entre as poucas barracas que haviam por ali. Os via se beijando com paixão e tinha inveja.

Chegando no Mucuripe, observei casas bastante simples, de pescador. O horizonte era decorado pelas velas das jangadas, que voltavam do mar, trazendo peixes e saudades.

Pude ver os prédios crescerem, formando um paredão de concreto na orla. Agora já era um homem adulto.

Ao longe, enxergava uma mulher saindo de uma loja de noivas. Um sorriso largo desenhava-se em seu rosto. Talvez estivesse a pensar na vida de felicidades que a aguardava, ou apenas a lembrar de quando sua mão foi pedida em casamento.

Eu olhava pela janela e via um jovem casal de mãos dadas. Ela o olhava com uma ternura quase materna, enquanto ele acariciava a barriga dela, já grande, carregando o fruto do amor deles, e eu os via, através da janela do meu carro.

Já no parquinho, chamou-me a atenção a mãe que olhava o filho jogar bola com o pai. Os olhos dela transbordavam felicidade. Riu-se quando o pai caiu, derrubando junto a criança, para se abraçarem no chão.

Agora a noite já crescia pela janela do carro, e eu já era um velho senhor.

Num restaurante jantava uma família inteira. Avô, avó, pai, mãe e filhos conversavam acaloradamente. Talvez falassem sobre a neta da vizinha, que aos 20 anos já estava grávida, de novo. Talvez o assunto fosse o neto que, todo bobo, havia comprado um ramalhete de flores para que sua namorada, a primeira de toda a sua vida, o perdoasse pela primeira briga que tiveram. Ou quem sabe estivessem brigando com a menina, que teimava em não comer nada, embora os ossos nos seus ombros fossem cada vez mais evidentes.

Pouco depois do restaurante pude ver um casal de velhinhos sentados num banco na praia. Ela dormia com a cabeça no ombro dele, e ele enrolava os cabelos dela por entre os dedos, da mesma forma que faziam quando eram jovens.

A noite já ia alta. Sabia que meu passeio estava perto do fim. Lembrava de cada detalhe enquanto o motor começava a fraquejar, até que, por fim, ele parou, e eu não podia mais lembrar de nada.

jeudi, mars 29, 2007

Satisfação

Vim aqui só para avisar que, a partir do próximo domingo, as postagens voltarão à normalidade, em regime semanal

dimanche, mars 11, 2007

Mudança

As mudanças são constantes na nossa vida. Algumas delas são para o bem, outras para o mal.

Já novos, começamos a mudar. Mudamos o nosso meio de nos locomover, deixando de engatinhar para andar, desajeitados. Mudamos o nosso jeito de nos comunicar, deixando de chorar para falar.

Na adolescência, mudamos nosso comportamento. Às vezes nos tornamos “aborrecentes”, às vezes não. Deixamos de achar a pessoa do outro sexo a coisa mais nojenta do mundo para passarmos a desejá-las.

Quando adultos, nos mudamos da casa dos nossos pais para a nossa própria casa. Mudamos de namorados, mudamos de roupa, mudamos de ares, mudamos de cidade.

Quando velhos, mudamos novamente. Passamos a andar, ouvir, falar e ver com dificuldade. Nos sedentarisamos num local confortável, quieto, oposto àquele ruidoso com que sonhávamos quando éramos adolescentes.

Mudamos sempre, mas uma coisa nunca muda: o fato de ser humanos, e de que precisamos ser amados. A como eu quero que o amor dela por mim nunca mude.

Nota da edição: No próximo domingo, dia 18, muito provavelmente não haverá post, pois estou de mudança.

dimanche, mars 04, 2007

Eclipse

Eles estavam lá, sentados em umas cadeiras ao lado da piscina na casa dela, esperando começar o eclipse lunar. Já fazia dias que eles falavam sobre assisti-lo juntos. Na verdade, desde pequenos eles queriam presenciar um evento assim. Já eram amigos desde a infância e sempre andavam juntos. Eram como unha e carne, inseparáveis.

Ela estava bastante animada. Sempre teve verdadeira fixação por fenômenos astronômicos. Ela costumava, desde pequena, olhar para as estrelas e desenhar figuras com o pensamento, como que a ligar os pontos naqueles jogos que costumavam vir em revistas infantis.

Enquanto ela apontava para o céu, maravilhada, ele olhava seu entusiasmo com ternura. O tempo passava, e a luz da lua, que refletia nas águas da piscina, era cada vez mais tênue. O rosto dela ficava cada vez mais radiante de emoção, enquanto o rosto dele ia se molhando de um suor frio, como aquele que acomete aqueles que temem algo que não conseguem entender.

Finalmente, a sombra do planeta azul cobre por inteiro o nosso satélite natural. Ambos estão ali, parados, no escuro absoluto, sob um silêncio impenetrável. Era possível ouvir os batimentos cardíacos dos dois, sincronizados um com o outro. Ela estava muito feliz em poder acompanhar aquilo tudo, ainda mais com seu melhor amigo. Ele, por outro lado, estava bastante nervoso. A única coisa que pensava era se finalmente teria coragem de falar, ali naquela escuridão, que a amava como ninguém jamais pudera amar outra pessoa.

dimanche, février 25, 2007

Ela foi embora

Como sentia sua falta

mercredi, février 21, 2007

Quarta-Feira de Cinzas

Na sexta, pegou a Antônia;

No sábado, agarrou a Vitória;

No domingo, dormiu com a Marlene;

Na segunda, fez sexo com Matilde;

Na terça, ficou com a Renata;

Na quarta-feira de cinzas, voltou para o trabalho novamente, solitário, de ressaca, vazio como sempre foi.

dimanche, février 11, 2007

A Melhor Vista do Mundo

Depois de uma longa jornada escada acima, achava-me no topo da famosa caixa d’água da Faculdade de Direito do Ceará (UFC), olhando para o horizonte.

Logo diante de mim revelava-se imponente a Velha Salamanca, mostrando suas salas, auditório e corredores quase de uma maneira envergonhada, como uma mulher vaidosa que, embora ainda seja tão bonita como era nos seus anos de juventude, tenta esconder sua verdadeira idade.

Pouco adiante da velha academia vejo a ponta do obelisco erigido pelo poderoso Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua, em homenagem aos homens justos que partiam para lutar contra a horda fascista que ameaçava a liberdade. Poucos metros depois encontra-se a praça de onde o Grande Mestre olha vigilante, guardando com bravura os nossos direitos, portando seu Código Civil na mão.

Curvo o olhar e vislumbro a Catedral, marco da arquitetura clerical, que se ergue majestosa no centro da cidade, servindo de fortaleza para a fé e espiritualidade de nossa gente.

Logo adiante da Igreja-Mater posse ver o Forte de Schoonenborch, também conhecido como Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, ao mesmo tempo útero e berço de nossa cidade. Ao redor dele nasceu Fortaleza. Nele foi torturada Bárbara de Alencar, mãe do escritor-mor da literatura romântica cearense. Hoje, por uma daquelas peripécias que nos pregam o destino, lá funciona a 10ª Região Militar, também chamada de Região Martim Soares Moreno, em homenagem ao mesmo homem que, em um dos livros de José de Alencar, se apaixonou pela índia dos lábios de mel. Aliás, ela mesma está na praia, aguardando pacientemente pela volta de seu cavaleiro, que está numa longa viagem de quatro anos para Portugal.

Como plano de fundo, posso divisar as velas do Mucuripe, que mais uma vez estão saindo para pescar, levadas por aqueles que sempre honram a tradição do Chico da Matilde, o memorável Dragão do Mar, homem o qual nunca quedou silente frente às injustiças de seu tempo.

Depois de me encantar com a vista do velho centro histórico, caminho pela borda da caixa d’água para olhar o outro lado e ter a melhor visão do planeta: o meu povo, que tem a sorte de morar na cidade mais linda do mundo.

Parafraseando o Grande Maestro, só haverá felicidade no Brasil quando todos se mudarem para Fortaleza.

dimanche, février 04, 2007

Vida de Escritor

Certa vez Rachel de Queiroz disse que escrever na era algo prazeroso, mas um dever quase que imposto a nós escritores. O escritor, pobre diabo, cumpre apenas um mister quase penoso para si mesmo.

Começa orando às musas para que lhe dêem a inspiração necessária. Depois, passa horas diante da tela do computador, ou do papel da máquina de escrever, trabalhando em sua obra como um escultor, entalhando cada palavra, apenas para achar que o que ele escreveu não vale sequer a tinta gasta, deletar (ou amassar) tudo e começar de novo.

Dias depois finalmente se dá por satisfeito, cria coragem e publica, mas não lê sua obra, pois sabe que se ler vai sempre achar que poderia ter escrito algo de forma diferente, melhor. É que não existe melhor crítico que o próprio escritor.

Depois de publicar, espera pacientemente a critica dos outros, já que ele sabe que a dele mesmo será sempre negativa. O pior é que muitas vezes o pobre coitado não tem o “feedback” necessário e continua sempre se achando um fracasso monumental.

Comédias de uma vida de escritor.

dimanche, janvier 28, 2007

Eterna pressão de ser engraçado

Desenhava em seu rosto um sorriso tão falso como o de Gioconda, obra-prima do grande mestre Leonardo Da Vinci. Estava sentado ali, pintando sua face como se nada estivesse acontecendo.

Olhava no espelho, com sua maquiagem toda peculiar, e não se reconhecia. Fazia anos que trabalhava naquilo, e adorava seu trabalho. Naquela noite, entretanto, queria estar em qualquer lugar que não fosse aquele.

Levantou-se mais uma vez e se dirigiu ao picadeiro, ensaiando algumas de suas falas. Bastou que ele fechasse a porta para que seu celular começasse a vibrar, havendo recebido uma mensagem que dava conta do triste destino de sua filha, que estava internada no hospital fazia mais de um mês.

Lá estava ele de novo, diante da platéia, sofrendo a pressão de ser eternamente engraçado e feliz. Mais uma vez o respeitável público ria e aplaudia, enquanto o coração do pobre palhaço deitava-se em lágrimas.

dimanche, janvier 21, 2007

Serra

Estavam em cima da serra de Maranguape. Desfrutavam de uma vista lindíssima, só comparável ao amor de um pelo outro.

dimanche, janvier 14, 2007

Choro

Partia-lhe o coração vê-la chorar.

dimanche, janvier 07, 2007

Sinal fechado



O sinal estava fechado. Ele corre em direção ao carro mais próximo.

- Doutor, você quer que eu limpe seu vidro?
- Não, obrigado!

Um pouco frustrado, segue adiante.

- Doutor, você quer que eu limpe seu vidro?

O motorista continua calado. Ele então começa seu trabalho, o qual executa com bastante eficiência.

- Pronto, doutor.

O motorista simplesmente olha pra frente e dá partida no carro, mudando pra uma faixa mais vaga. Ele, mais uma vez frustrado, segue adiante.

- Doutor, você quer que eu limpe seu vidro?
- Não dou meu dinheiro pra vagabundo.
- Desculpa, doutor.

Não mais resistindo, senta-se humilhado na calçada, com as mãos calejadas pelos anos de trabalho braçal no rosto e as lágrimas correndo-lhe por entre os dedos.

lundi, janvier 01, 2007

A Vida Passa

Estava lá, deitado em sua cama, pensando como foi aquele ano.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Lembrava-se o quanto se divertira jogando bola com os amigos, ao invés de meter a cara nos livros.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Lembrava-se que, todas as vezes que sua mãe mandou-lhe estudar, tinha uma desculpa na ponta da língua. “Não tem dever de casa”, “a senhora não acha que eu já estou bem grandinho?”, “eu já estudei” e coisas do tipo. Como sua mãe era pateta, pensava.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Lembrava-se das festas que ia, mesmo em dia antes de prova, onde enchia a cara, fumava uma e puxava uma carreirinha de leve, mas nada de mal, já que estava com os amigos.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Ele, que tinha tudo para ter uma vida excelente, se afundava mais e mais em sua própria boçalidade e auto-piedade, sem saber como aquilo tudo era ruim. Poderia ter sido um rei, mas foi apenas mais um a terminar na sarjeta.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passou. Ele, infelizmente, não a acompanhou.