dimanche, janvier 28, 2007

Eterna pressão de ser engraçado

Desenhava em seu rosto um sorriso tão falso como o de Gioconda, obra-prima do grande mestre Leonardo Da Vinci. Estava sentado ali, pintando sua face como se nada estivesse acontecendo.

Olhava no espelho, com sua maquiagem toda peculiar, e não se reconhecia. Fazia anos que trabalhava naquilo, e adorava seu trabalho. Naquela noite, entretanto, queria estar em qualquer lugar que não fosse aquele.

Levantou-se mais uma vez e se dirigiu ao picadeiro, ensaiando algumas de suas falas. Bastou que ele fechasse a porta para que seu celular começasse a vibrar, havendo recebido uma mensagem que dava conta do triste destino de sua filha, que estava internada no hospital fazia mais de um mês.

Lá estava ele de novo, diante da platéia, sofrendo a pressão de ser eternamente engraçado e feliz. Mais uma vez o respeitável público ria e aplaudia, enquanto o coração do pobre palhaço deitava-se em lágrimas.

dimanche, janvier 21, 2007

Serra

Estavam em cima da serra de Maranguape. Desfrutavam de uma vista lindíssima, só comparável ao amor de um pelo outro.

dimanche, janvier 14, 2007

Choro

Partia-lhe o coração vê-la chorar.

dimanche, janvier 07, 2007

Sinal fechado



O sinal estava fechado. Ele corre em direção ao carro mais próximo.

- Doutor, você quer que eu limpe seu vidro?
- Não, obrigado!

Um pouco frustrado, segue adiante.

- Doutor, você quer que eu limpe seu vidro?

O motorista continua calado. Ele então começa seu trabalho, o qual executa com bastante eficiência.

- Pronto, doutor.

O motorista simplesmente olha pra frente e dá partida no carro, mudando pra uma faixa mais vaga. Ele, mais uma vez frustrado, segue adiante.

- Doutor, você quer que eu limpe seu vidro?
- Não dou meu dinheiro pra vagabundo.
- Desculpa, doutor.

Não mais resistindo, senta-se humilhado na calçada, com as mãos calejadas pelos anos de trabalho braçal no rosto e as lágrimas correndo-lhe por entre os dedos.

lundi, janvier 01, 2007

A Vida Passa

Estava lá, deitado em sua cama, pensando como foi aquele ano.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Lembrava-se o quanto se divertira jogando bola com os amigos, ao invés de meter a cara nos livros.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Lembrava-se que, todas as vezes que sua mãe mandou-lhe estudar, tinha uma desculpa na ponta da língua. “Não tem dever de casa”, “a senhora não acha que eu já estou bem grandinho?”, “eu já estudei” e coisas do tipo. Como sua mãe era pateta, pensava.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Lembrava-se das festas que ia, mesmo em dia antes de prova, onde enchia a cara, fumava uma e puxava uma carreirinha de leve, mas nada de mal, já que estava com os amigos.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passa.

Ele, que tinha tudo para ter uma vida excelente, se afundava mais e mais em sua própria boçalidade e auto-piedade, sem saber como aquilo tudo era ruim. Poderia ter sido um rei, mas foi apenas mais um a terminar na sarjeta.

E passa dia,
E passa mês,
E passa ano,
E a vida passou. Ele, infelizmente, não a acompanhou.