dimanche, mai 28, 2006

Vida Virtual

Conheceu aquela menina pela internet. Nunca achou que poderia se apaixonar assim. Trocaram telefones, se falaram por meses a fio, até que um dia quiseram se encontrar.

Chegado o momento, lá estava ele, sentado, aguardando. Quando olhou aquele sorriso, reconheceu imediatamente aquela mulher, mesmo sem nunca tê-la visto. Naquele momento ele se apaixonava por ela.

Nunca haviam se visto, mas parecia que se conheciam desde a infância. Ele a ouvia como ninguém. Ela parecia ser a única que lhe entendia. Beijaram-se naquele mesmo dia, sem que tivessem planejado nada. No outro dia eram namorados.

Os anos se passaram, e a paixão cresceu. Quando não se viam pessoalmente, encontravam-se pela rede. E seguiam sua paixão.

Um dia ele tomou coragem. A levou a um show de jazz de um amigo. Tornou aquela noite mais romântica que se podia imaginar. Ali mesmo tirou um anel belíssimo e fez a pergunta que mais esperava fazer, e ouviu a resposta que desejava ouvir. Alguns meses depois casavam-se sob o som do mesmo saxofone.

Ainda hoje vivem juntos, velhinhos, contando aos seus netos como se conheceram, de forma quase providencial, pela extinta rede de computadores chamada internet.

Comédias de uma vida cada vez mais virtual.

lundi, mai 22, 2006

Mais Uma Semana

Mais uma semana se passou. Entretanto não foi uma semana qualquer, mas uma que entraria para a história.

Durante todos aqueles dias ele era um dos que se sentava à mesa ao lado de grandes autoridades, frente a um palco composto por mais ou menos 450 pessoas.

Sentia-se recompensado por todo aquele tempo de trabalho, noites de sono perdidas, brigas travadas. Estava feliz, pois sabia que o trabalho dele e de seus colegas finalmente podia ser devidamente apreciado.

A semana passou rapidamente, mas deixou uma marca na sua alma e na de todos que a construíram, e foi um marco divisor de águas.

Como muitas outras, mais esta semana se passou, mas deixou uma contribuição indelével no ânimo de todos.

dimanche, mai 14, 2006

Sonho Realizado? (ou Crônicas de uma Vida de Policial)

O sonho da vida dele sempre foi ser policial. Via aqueles filmes Hollywoodianos, em que mocinhos sempre venciam os bandidos. Queria que o seu mundo fosse um pouco mais daquele jeito.

Quando atingiu a idade necessária, fez concurso para Soldado da Polícia Militar. Era a chance que ele tanto esperava. Fez a prova e passou com louvor. Naquele momento, atingia sua máxima realização pessoal.

Como um dia sonhara, combatia os criminosos, na tentativa de fazer sua cidade um local melhor de se viver. Cumpria suas missões com garbo e amor.

Certa véspera de dia das mães, estava indo ao shopping comprar um presente. Encontrava-se deveras ansioso para chegar na casa de sua genitora no dia seguinte. Era o seu primeiro dia das mães como policial. Estava quase chegando ao estacionamento do shopping quando foi abordado. Antes que pudesse dizer algo, sentiu algo como um ferro quente queimar-lhe a garganta. Sentiu a mesma coisa em seu estômago, e em seu peito. Eram balas que cravejavam seu frágil corpo. Uma facção criminosa de São Paulo estava comandando atentados terroristas, e ele foi mais vítima.

Jazia naquele carro o corpo de um filho amoroso, enquanto do outro lado sua mãe sentia um aperto no peito, sem saber o motivo.

Comédias de uma vida cada vez mais violenta.

dimanche, mai 07, 2006

Arrependimento

A água deslizava suavemente pelos seus longos cabelos negros, dispostos de forma displicente sobre aqueles seios fartos e macios. Estava debaixo daquele chuveiro há mais de uma hora. A noite tinha sido muito longa.

Poucas horas antes tinham se encontrado, ela e o seu namorado, num belíssimo restaurante da cidade. Parecia que seria uma noite excelente. Parecia, mas não foi. Ele teve mais um ataque de ciúmes violento. Ela, novamente, passou vergonha na frente de muita gente. Foi a gota d’água. Saiu imediatamente de lá, e deu tudo por acabado.

Pensava se a sua decisão tinha sido a mais correta, enquanto a água escorria pelo seu corpo escultural. Ouviu um barulho vindo da sua sala. “Deve ser aquele maldito gato”, pensou. Pouco tempo depois o ruído ficou mais alto.

Pegou a sua arma, a qual sempre tinha a seu lado, devido sua perigosa profissão, e foi em direção ao barulho. Viu um vulto se mexer em sua sala, e, sem pensar duas vezes, disparou.

Quando se recompôs, reconheceu o corpo estirado no chão, cravejado de balas. Era seu ex-namorado, que ainda tinha a chave da casa dela.

Cambaleante, ela caiu no chão, com as mãos cobrindo o seu rosto molhado pelas lágrimas. Quando olhou para o lado, notou perto do corpo dele um buquê de flores, com um pequeno cartão. Ao abri-lo, tornou a chorar. Tinha apenas 4 palavras, que nunca mais ela iria esquecer: “Te amo. Me perdoa?”

Baesado em um texto de Pedro Salgueiro.

lundi, mai 01, 2006

Uma Nova Forma de Contar a Vida

Hoje em dia a vida das pessoas está totalmente colocada em seus HD’s. Para saber a personalidade de alguém, basta dar uma pesquisada em seu disco rígido.

O leitor inveterado por certo tem diversos e-books na pasta “Meus Documentos”. Já o cinéfilo tem diversos filmes na sua lista de downloads. O idoso só tem o bom e velho “paciência” instalado. E o adolescente, diversas fotos de garotas em poses mais que sensuais.

Uma coisa, no entanto, todos têm em comum: o desespero ao ter que formatar o computador. Naturalmente nenhum deles se lembra de fazer backup, e acabam perdendo seus livros, filmes e jogos. Acabam sendo acometidos por algo que chamo carinhosamente de síndrome do HD vazio. Após a formatação, apenas sentam a vislumbrar seu disco rígido, sem nada a o preencher, com pouquíssimas pastas aparecendo no “Windows Explorer”, numa cena que chega a ser deprimente. Parecem ter uma parte de suas vidas tomada pelo vilão do vírus de computador. E ficam lá, sem saber o que fazer.

Comédias de uma vida de HD vazio.