dimanche, juin 25, 2006

Prólogo de Uma Vida Perfeita

Fechou os olhos. A musica do saxofone penetrava-lhe os ouvidos de forma extremamente suave e prazerosa. E como adorava o jazz.

Ao voltar à realidade, viu aquela mulher deslumbrante sentada a sua frente, trajando um vestido vermelho que reluzia em sua face clara. O rosto dela, afilado como uma pétala de rosa, trazia uma beleza indescritível. Suas mãos eram suaves como a seda chinesa que compunha a roupa que ela usava. Seus dedos eram finos como os de uma pianista. Sua boca era como um mar em que ele desejava se afogar. Sua beleza ficou ainda maior quando ela corou com aqueles olhares apaixonados lançados por ele. Como ele adorava quando ela corava. E ela não podia esconder um sorriso apaixonado que dançava lindamente sobre aqueles lábios delicados.

Haviam sido presenteados com a melhor mesa da casa. Ele havia combinado com o musico, amigo seu, para tocar as músicas mais românticas de seu repertório. Aquela noite seria especial.

Enquanto a admirava, pôs-se a lembrar da tarde daquele mesmo dia, quando estava na joalheria escolhendo o anel que iria lhe dar. Dentre todos, um chamou sua atenção. Sua delicadeza e beleza o faziam lembrar dela. Decidiu que aquele seria o que iria levar. Lembrava de seus encontros com ela, sempre românticos e apaixonantes. Lembrava do dia que se conheceram, quase por um passe de mágica. Lembrava de seu pretérito-mais-que-perfeito com ela e imaginava a vida a dois que estavam prestes a compartilhar.

Ela pareceu não ligar enquanto ele checava o bolso do paletó em busca do presente dela. Ele tirou a caixa de veludo ali mesmo, se ajoelhando e fazendo a pergunta que ela mais esperava. Sua face corou mais ainda, aumentando sua perfeição a níveis incalculáveis. Outra resposta não poderia dar senão o “sim”. Ele colocou o anel no dedo dela e a beijou como nunca havia feito antes, ao som do mais belo saxofone.

Comédias de uma vida perfeita.

dimanche, juin 18, 2006

Pôr-do-sol

Ele estava lá, admirando aquele belíssimo pôr-do-sol que só mostra sua real perfeição na Ponte dos Ingleses, em Fortaleza. Aquele tom de vermelho quase laranja colorindo o céu como uma verdadeira pintura de Monet, misturando-se com a cor dos verdes mares da praia de Iracema. Não podia pensar em alguma cena mais bonita em toda a sua vida. Estava tão absorto em sua observação que não percebeu que alguém estava ao seu lado direito, também admirando aquela imagem digna de uma aquarela.

Movido por uma intensa vontade e sem saber o real motivo, virou seu rosto o suficiente para perceber uma belíssima silhueta de uma mulher ruiva, branca, de estatura mediana, com o rosto afilado e tão familiar. Tinha reconhecido na hora a mulher por quem tinha sido apaixonado na sua infância e para a qual nunca teve coragem de contar o que sentia. Sempre admirou aquela beleza, que estava ali, parada ao seu lado, ainda perfeita, como ele lembrava, ressaltada por aquela obra divina que só pode ser visualizada num belíssimo fim de tarde na capital do estado do Ceará.

Finalmente tomou coragem e falou-lhe um envergonhado “oi”. Ficou tomado pela surpresa quando ela exclamou com muita felicidade em “olá” e abraçou-lhe fortemente. Sem que notasse, o perfume dos cabelos dela lhe encheu as narinas com um doce aroma de lírios brancos. Fechou os olhos, sem que ninguém percebesse, e lembrou-se de como adorava aquele cheiro.

Ficaram lá, observando o pôr-do-sol e conversando sobre tudo que tinha acontecido na vida de cada um desde que ambos pararam de se ver. O sorriso no rosto dos dois não negava a felicidade que cada um sentia.

As mãos dele começaram a ficar trêmulas. Finalmente havia decidido falar-lhe sobre sua paixão infantil, e que nunca havia contado pois achava que não tinha a menor chance com ela. As palavras fluíram de sua boca com uma imensa e impressionável facilidade, como se tivesse ensaiado por anos o que deveria falar. Ao ouvir o que ele tinha a lhe dizer, ela sorriu largamente, colheu-lhe as mãos e o beijou de como nunca beijara alguém antes, para depois por seus dedos no rosto dele e dizer que o amor dele era por ela correspondido. Contou-lhe que desenhava todos os dias no seu caderno um coração contendo o nome dos dois, e que o olhava durante a aula e suspirava. Ele apertou a mão dela mais uma vez e tocou os lábios dela com os seus, de uma forma que há muitos anos sonhara fazer.

Começaram a namorar naquele mesmo dia, e até hoje contam a quem quiser ouvir a sua história de amor.

Comédias de uma vida cada vez mais apaixonada.

dimanche, juin 11, 2006

Felicidade

Estava lá, sentado no sofá, olhando pela janela para uma noite escura, como que esta refletisse sua própria alma. O céu estava nublado, assim como seu coração. Não podia parar de pensar nela.

A imagem de sua esposa na semana anterior não saia de sua cabeça. Ele a tinha visto numa tórrida cena de amor com um vizinho. Impossibilitado de fazer algo, virou-se de costas e deixou o apartamento, sem que ela sequer notasse sua breve presença.

Todos os dias daquela semana ele voltava para casa, a encontrava e se punha a chorar. Ela, sem saber o motivo, procurava o encorajar. “Amor, resolva esse problema que o aflige” dizia ela, sem saber a causa daquele choro todo.

A família dele o levou algumas vezes para fazer compras, coroando a máxima da sociedade consumista em que viviam, em que todos devem ser felizes 24 horas por dia, sob pena de não serem perfeitos. E ele permanecia lá, em sua tristeza, querendo que o mundo entendesse que ele não queria estar alegre. Simplesmente não queria.

Foi por certo a semana mais difícil de sua vida. Pensava se a sua vida teria valido a pena. Pensava o que fez de errado no seu casamento. Pensava o que ela via no outro. Pensava. Pensava. Pensava.

Enquanto isto, a fumaça fazia um suave desenho ao sair do cano de seu revolver.

dimanche, juin 04, 2006

Ao Leitor

Raras são as vezes em que eu me reporto diretamente ao leitor. Esta é uma delas.

A maioria das vezes que me encontro aqui tentando escrever algo não tenho uma idéia fixa do que quero tratar, até que abro o editor de texto, me ponho a olhar àquela tela em branco e começo a namorar com o teclado e manter uma relação amorosa com as palavras. Outras vezes fico como hoje, a falar muito sobre coisa alguma.

Isso acontece porque todos os domingos, por volta desta mesma hora eu venho por aqui e escrevo algo. Fico a esperar algum comentário, que na maioria das vezes não vem. Naturalmente sei que isso não é sinônimo de desgosto por sua parte, leitor, já que tenho uma média de 7 a 8 acessos por dia, cada um com uma média de 2 minutos e meio de leitura.

Esse elevado número de leituras por dia, no entanto, me faz cumprir uma rotina quase religiosa de orar a Deus pela inspiração que muitas vezes não vem.

Mais uma vez me encontro a dissertar sobre coisa alguma. No entanto esse monte de “nada” que compartilho com meus leitores vale muito mais que muitos “alguma coisa” compartilhados com certas pessoas.

Comédias da vida de um escritor em busca de inspiração.