dimanche, novembre 26, 2006

Desculpas

Ela estava no terraço do apartamento, com um copo na mão, olhando para o horizonte numa noite fria e escura. O vento batia em seu rosto, fazendo seus cabelos esvoaçarem. As lágrimas escorriam de seu rosto. Ela nem podia imaginar que haviam discutido por um motivo tão bobo. O pior era que ela achava que estava errada, mas não conseguia pedir desculpas. Era simplesmente muito difícil pronunciar aquelas palavras.

dimanche, novembre 19, 2006

Conjecturas

Todos as noites, no meu caminho para casa, passo por uma janela e vejo algo que me chama atenção. Um moço jovem, alto, de cabelos negros, bem vestido, a dançar com uma senhora que tem idade suficiente para ser sua avó. Olho para o rosto dos dois, que reluzem de uma forma singular sob a luz do luar que entra pela pequena janela, e vejo uma felicidade pulsante daqueles semblantes, jovem, dele, e gasto pelo tempo, dela.

Todos os dias, ao ver essa cena, me coloco a pensar. Fico tentando achar uma explicação para tudo aquilo. Seria aquele jovem um neto daquela senhora, que todas as noites, como um bom rapaz, ia fazer companhia à sua avó? E, como um excepcional neto, sempre dança com ela, para fazê-la relembrar dos bons tempos de outrora. Talvez eles fossem amantes, coisa que não seria tão estranha no mundo em que vivemos hoje. Poderia também ser um voluntário, que todas as noites ia ali fazer sua caridade e dar bons momentos a uma velhinha solitária.

Todos esses pensamentos passam por minha cabeça humana, que, como tal, é ansiosa por uma explicação, por um motivo. No entanto, realista que sou, sei que muito provavelmente ficarei apenas nas suposições. Dificilmente saberei a verdade sobre aqueles dois, que, durante sua dança, com seus sorrisos e rostos que deixam transparecer infinita candura e cumplicidade, me cativam todas as noites. E eu, admirando aqueles dois no breve tempo de um sinal fechado, posso apenas continuar fazendo conjecturas.

dimanche, novembre 12, 2006

Secretária Eletrônica

Lá estava ela, sentada no sofá naquela madrugada do mês de dezembro, ouvindo o bolero que tocava em uma rádio antiga, segurando com uma mão um copo de conhaque com a outra, uma foto. Estava tão linda naquela imagem emoldurada, tão feliz, tão diferente.

Lembrava como eram bons aqueles anos dourados, que pareciam tão distantes. Pensava em quanto ainda o amava, e tentava lembrar porque haviam se separado. A única coisa que vinha à sua cabeça era a imensa tolice consubstanciada em brigas sem motivo algum.

Olhava fixamente para o telefone enquanto os pensamentos passeavam pesadamente por sua mente inebriada pelo álcool. As lágrimas teimavam em correr por aquele rosto desgastado pelas noites em claro e pela depressão.

Quando menos esperava já estava a fazer confissões íntimas à secretária eletrônica dele, como se ainda estivessem juntos. Talvez nutrisse a esperança de convencê-lo que ele ainda a amava, da mesma forma que o amor dela havia permanecido intacto depois de tanto tempo de separação. Naturalmente ela estava ciente da baixa possibilidade de conseguir, mas, diabos, por que não tentar?

Após gastar quase toda a fita, finalmente põe o telefone no gancho. Quase sem perceber, um sorriso mórbido desenhou-se em seu rosto. “E se ele já tiver um novo amor?” pensou.

Fitou mais uma vez o conhaque e a foto, que estavam colocados bem diante dela, na mesinha de centro que ela comprou com ele. Tudo aquilo não importava mais. Novamente uma lágrima teimosa molhou sua face.

Finalmente, levantou-se do sofá, indo até a geladeira para pegar aquela última barra de chocolate, que estava devidamente guardada, para não derreter. Deu a primeira mordida enquanto pensava “teus beijos nunca mais”.

dimanche, novembre 05, 2006

Turismo

Ele e sua namorada esperavam ansiosamente no lobby do hotel. Já fazia alguns minutos que eles tinham pedido que a recepcionista ligasse para o quarto 605 e avisasse que já estavam esperando. Ele estava visivelmente tenso. É que já fazia mais de 6 anos que ele não via a moça que estava hospedada naquele quarto. O casal, que aguardava ansiosamente, olhava apreensivo para o elevador. Os momentos passam de forma vagarosa, até que finalmente a porta se abre. Lá estava a irmã dele, junto com o namorado, saindo do elevador. Ela estava deslumbrante, cheirosa, sorridente, com os cabelos loiros presos, formando um belíssimo rabo de cavalo descendo-lhe levemente pelas costas. Era exatamente como ele lembrava. Abraçaram-se e, mais que de repente, todo o nervosismo se dissipou.

Saíram juntos os quatro, para conhecer a bela cidade de Fortaleza. O irmão levou a irmã aos pontos turísticos que mais gostava, na esperança que estes também se tornassem também os preferidos dela, e ela o ligasse a eles, para quando ouvisse falar de algum deles, lembrasse de seu rosto e do bom momento que passaram juntos, irmão e irmã, acompanhados de sua namorada e namorado.

Visitaram o Centro Cultural Dragão do Mar, passeando por entre as obras e deixando-se viajar no reino da imaginação proporcionada pela beleza do local.

Depois se dirigiram à Ponte dos Ingleses, ou Ponte Metálica, para os íntimos, local dos eternos namorados que vivem na Terra da Luz. Ali ele, o irmão, abraçou sua namorada, e percebeu que sua irmã igualmente era abraçada pelo seu namorado, pois que ambos os casais achavam-se rendidos à magia romântica da noite fortalezense, infinitamente aumentada pelo bater do mar nas rochas que se encontravam abaixo de seus pés.

Por ultimo, se encaminharam a um famoso restaurante da cidade, para degustarem pratos típicos da capital cearense. Estavam lá os quatro, sorrindo e se divertindo, com as conversas regadas à água de coco e refrigerante com limão, acompanhado de saborosa peixada.

Ao fim da noite, o casal anfitrião foi acompanhado pelo casal visitante até o local onde eles haviam deixado o carro. Ele, irmão, abraçou fortemente ela, irmã, e confidenciou-lhe que sentia muito sua falta, muito embora as peripécias do destino os tivessem separado em um passado distante, e que ela é uma pessoa importantíssima para ele. Abraçou-a fortemente, deixando transparecer que, embora ainda estivessem juntos, já sentia sua falta. Mais uma vez despediram-se, e seguiram seus caminhos, na esperança de poderem se encontrar novamente um dia.

Comédias de uma vida cada vez mais esperançosa.