samedi, septembre 30, 2006

Novo Blog

Venho aqui anunciar que estou começando um novo blog, o Considerações Políticas. Quero avisar que continuarei aqui, todos os domingos, postando uma nova crônica, mas também postarei lá, uma vez por semana, e peço a vocês, amigos leitores, que acompanhem e comentem os dois.

Muito obrigado.

dimanche, septembre 24, 2006

"The Way You Look Tonight"

Fazia algumas semanas que eles decidiram comemorar seu quinto aniversário de namoro no café que fica próximo à escada vermelha do Dragão do Mar. De fato aquele ambiente era muito romântico, e foi escolhido a dedo. A iluminação era perfeita, a refeição, soberba, o amor, sublime.

Ele a olhava com paixão. Como ela estava linda sob aquela luz. A cor branca de sua roupa realçava as suas bochechas, que tinham um belíssimo tom de rosa. Como aqueles dois se amavam.

Ela o olhava, deixando o amor transbordar pelos seus olhos. Admirava a forma que ele a observava. Divertia-se com classe improvisada dele numa situação que ambos não estavam acostumados a viver.

De repente alguém lá embaixo liga o som de um carro, e a musica que toca não poderia ser mais oportuna. A voz de Rod invadia o ambiente. De fato, como Stewart falava, ele a amava “just the way you look tonight”. Enquanto ele cantarolava a música, um tanto desafinado, naturalmente, ela se sorria, com visível felicidade por aquele dia especial.

Depois partiram rumo à ponte dos ingleses. Embora aquela paisagem seja extremamente bonita, ele não conseguia tirar os olhos do rosto dela. Como ele gostava da forma que a lua iluminava seu sorriso. E ele sorria também, enquanto diversos versos de Tom Jobim vinham à sua mente. As vezes ele deixava que alguns lhe escapassem pelos lábios. Ela sorvia cada palavra com um prazer indizível.

As horas passaram rapidamente, mas eles permaneceram ali, abraçados, olhando para o horizonte, naquele momento o mundo todo como que havia parado com o único objetivo de observá-los. A ponte dos ingleses, lotada de pessoas, parecia vazia, como que tivesse sido feita apenas para aquele momento e para aquele casal. Eles permaneceram lá, daquele mesmo jeito, por muito tempo. E como se amavam.

dimanche, septembre 17, 2006

Paris

Paris era uma cidade tão linda, ainda mais naquela época do ano. Os flocos de neve descoloriam de forma cativante as ruas que dão acesso à famosa Torre Eiffel. Era uma das mais belas visões que alguém poderia ter.

Numa daquelas ruas havia um pequeno e charmoso bar parisiense. Num dos bancos do balcão sentava um homem, cuja tristeza não condizia com a alegria do local. Lá estava ele, sentado, olhando para a foto de uma mulher, enquanto balançava suavemente o copo cheio de conhaque.

Aquele senhor, que devia ter algo como 45 anos, tentava segurar as lágrimas que teimavam em rolar pelas suas faces brancas. Olhava para aquela foto, sem dizer uma só palavra. Seu olhar demonstrava a enorme desolação pela qual passava.

Estaria ele lamentando uma perda? Por acaso era sua esposa, que havia falecido? Ou fosse uma parente que há muito tempo não via? Não podia saber ao certo. Queria pergunta àquele homem o motivo de sua tristeza. Decidi não o fazer, pois não o queria o atrapalhar com o mero objetivo de saciar minha sádica curiosidade. Chamei o barman, e perguntei-lhe quem era aquele sujeito. Ele deu de ombros, dizendo que nunca o vira antes, e que já fazia umas três horas que ele estava lá, balançando aquele copo de conhaque e chorando silenciosamente.

Fiquei ali sentado tentando imaginar o que passava na cabeça daquele senhor. Pensava o que alguém tão triste faria naquele lugar tão alegre. Pensava como poderia alguém ficar tão deprimido numa cidade tão bonita. Pensava, apenas pensava.

De repente, ele cessa seu movimento quase hipnótico, toma o conhaque e sai, logo depois de pagar a conta.

Quase havia me esquecido daquele sujeito do bar quando, no dia seguinte, li o jornal. Lá estava a foto daquele senhor. Era um empresário bem sucedido, que havia acabado de ser deixado pela esposa. A policia afirmou que a única coisa que acharam junto ao corpo foi uma arma e a foto de uma mulher.

dimanche, septembre 10, 2006

Uma Flor

Era uma noite particularmente fria daquele ano de 1944 na pequena cidade de Birkenau, na Polônia. A lua, que costumava estar sempre bela, escondia-se por trás das cinzas que estavam em suspensão no ar, como que se estivesse envergonhada com o que presenciou por muitos anos em Auschiwtz.

Durante as últimas semanas as chaminés têm expelido muito mais fumaça que o normal. Isso era o reflexo do desespero de Berlim, que via o exército vermelho se aproximar cada vez mais.

Alguns soldados estavam conversando próximo da estação de trem, visivelmente preocupados com a derrota, que naquele momento, já era certa. Neste momento passam por eles várias mulheres judias, que estavam saindo diretamente da composição ferroviária para o “banho”. Todas elas tinham o cabelo raspado e as faces sujas. A maioria possuía a pele colada aos ossos, devido ao avançado estado de inanição. Aquelas judias já não refletiam mais a vida em seus olhos. Não pareciam mais com seres humanos, mas autômatos, totalmente desprovidas de vontade própria.

Depois da pequena caminhada, elas entraram na câmara, onde foram trancadas.

Desespero.

Gritos.

Silêncio.

Minutos depois os corpos daquelas mulheres eram atirados nas chamas dos fornos construídos especialmente para dar cabo à “Solução Final”. Novamente começava a fúnebre chuva de cinzas acompanhada do característico cheiro de carne e cabelo queimados. Aquela macabra precipitação já cobria todo o solo, que naquele momento tomava um lúgubre tom acinzalado.

Porém, no meio de todas aquelas cinzas, uma flor achou de brotar. Contrariando a lógica, aquela rosa cresceu e permaneceu ali, debilmente de pé. Desafiava as luzes dos postes de vigilância do campo, resistindo a todas as provações e colorindo com sua singela beleza aquele quadro tristemente monocromático. Lá estava ela, próxima das cercas elétricas, resistindo e corajosamente esperando que mãos dignas a viessem colher.

lundi, septembre 04, 2006

Enquanto Escrevo

Quando sento diante do meu bom e fiel celeron para escrever algumas linhas, o mundo ao meu redor parece parar. Fecho-me para o mundo real, para dedicar minha atenção apenas ao que escrevo. Mas a verdade é que o mundo não para. Muitas coisas acontecem enquanto estou aqui, conversando com as musas que rodeiam todos os escritores, mesmo aqueles que, como eu, são apenas amadores.

Neste exato momento, quem sabe, não esteja outra pessoa também escrevendo. Talvez alguém esteja lendo uma nova crônica do Airton Monte no jornal e sorrindo um pouco? Quiçá essa mesma pessoa esteja hoje se interessando pelo belíssimo mundo da escrita, e um dia se tornará também um cronista.

Neste mesmo momento um casal se conhece no calçadão da Praia do Futuro, sem saber que o destino de ambos estará enlaçado para o resto de suas vidas. Ao lado deste mesmo casal passa um senhor fazendo cooper a noite, lembrando como gostava de fazer isso com sua mulher, quando ela ainda estava viva.

Enquanto estou escrevendo, um homem solitário também está a produzir algumas linhas de um documento todo especial. Está escrevendo a última carta, na mesa de sua linda sala-de-apartamento-da-beira-mar, após ter descoberto da pior maneira possível que sua esposa de fato estava dormindo com Escobar, amigo seu de longa data, e que ele conhecera ainda na época de seminário, quando ambos pensavam em ser padres.

Agora mesmo um candidato passeia por entre o povo, se fazendo passar por um deles, conversando, convencendo, comprando.

Neste minuto um jovem reencontra sua namorada virtual, e com ela troca juras de amor, fotos, telefones, sem nunca saber que ela mora na porta ao lado, e que ambos poderiam encontrar pessoalmente seu amor verdadeiro, se apenas tivessem a coragem de dar seus endereços, sem ter medo de na verdade estarem falando com um seqüestrador que quer apenas conseguir dados para perpetrar uma ação delituosa.

Enquanto escrevo, o romântico está buscando sua amada, a imaginando, deitificando, adorando, se enamorando, antes mesmo de conhecê-la. E ela está lá, esperando, com uma flor na boca, pronta para ser colhida por ele, que a guardará consigo em seu peito, sem nunca ser ferido por sequer um dos espinhos.


Em homenagem ao grande escritor Airton Monte.