dimanche, novembre 12, 2006

Secretária Eletrônica

Lá estava ela, sentada no sofá naquela madrugada do mês de dezembro, ouvindo o bolero que tocava em uma rádio antiga, segurando com uma mão um copo de conhaque com a outra, uma foto. Estava tão linda naquela imagem emoldurada, tão feliz, tão diferente.

Lembrava como eram bons aqueles anos dourados, que pareciam tão distantes. Pensava em quanto ainda o amava, e tentava lembrar porque haviam se separado. A única coisa que vinha à sua cabeça era a imensa tolice consubstanciada em brigas sem motivo algum.

Olhava fixamente para o telefone enquanto os pensamentos passeavam pesadamente por sua mente inebriada pelo álcool. As lágrimas teimavam em correr por aquele rosto desgastado pelas noites em claro e pela depressão.

Quando menos esperava já estava a fazer confissões íntimas à secretária eletrônica dele, como se ainda estivessem juntos. Talvez nutrisse a esperança de convencê-lo que ele ainda a amava, da mesma forma que o amor dela havia permanecido intacto depois de tanto tempo de separação. Naturalmente ela estava ciente da baixa possibilidade de conseguir, mas, diabos, por que não tentar?

Após gastar quase toda a fita, finalmente põe o telefone no gancho. Quase sem perceber, um sorriso mórbido desenhou-se em seu rosto. “E se ele já tiver um novo amor?” pensou.

Fitou mais uma vez o conhaque e a foto, que estavam colocados bem diante dela, na mesinha de centro que ela comprou com ele. Tudo aquilo não importava mais. Novamente uma lágrima teimosa molhou sua face.

Finalmente, levantou-se do sofá, indo até a geladeira para pegar aquela última barra de chocolate, que estava devidamente guardada, para não derreter. Deu a primeira mordida enquanto pensava “teus beijos nunca mais”.

2 commentaires:

A.L. a dit…

Talvez dos textos mais bonitos desse sítio... =)
Beijo de quem sempre lê e (quase) nunca comenta.

A.L. a dit…

Vim aqui reclamar meu prêmio; adianto logo que não quero qualquer chocolate... Pô! Tu fazes referência ao Maestro e ainda me pergunta se eu sei qual é a música?! Um viva aos "Anos Dourados", Rochildo! Hehehehe! Agora te vira... =P
Beijo