dimanche, septembre 10, 2006

Uma Flor

Era uma noite particularmente fria daquele ano de 1944 na pequena cidade de Birkenau, na Polônia. A lua, que costumava estar sempre bela, escondia-se por trás das cinzas que estavam em suspensão no ar, como que se estivesse envergonhada com o que presenciou por muitos anos em Auschiwtz.

Durante as últimas semanas as chaminés têm expelido muito mais fumaça que o normal. Isso era o reflexo do desespero de Berlim, que via o exército vermelho se aproximar cada vez mais.

Alguns soldados estavam conversando próximo da estação de trem, visivelmente preocupados com a derrota, que naquele momento, já era certa. Neste momento passam por eles várias mulheres judias, que estavam saindo diretamente da composição ferroviária para o “banho”. Todas elas tinham o cabelo raspado e as faces sujas. A maioria possuía a pele colada aos ossos, devido ao avançado estado de inanição. Aquelas judias já não refletiam mais a vida em seus olhos. Não pareciam mais com seres humanos, mas autômatos, totalmente desprovidas de vontade própria.

Depois da pequena caminhada, elas entraram na câmara, onde foram trancadas.

Desespero.

Gritos.

Silêncio.

Minutos depois os corpos daquelas mulheres eram atirados nas chamas dos fornos construídos especialmente para dar cabo à “Solução Final”. Novamente começava a fúnebre chuva de cinzas acompanhada do característico cheiro de carne e cabelo queimados. Aquela macabra precipitação já cobria todo o solo, que naquele momento tomava um lúgubre tom acinzalado.

Porém, no meio de todas aquelas cinzas, uma flor achou de brotar. Contrariando a lógica, aquela rosa cresceu e permaneceu ali, debilmente de pé. Desafiava as luzes dos postes de vigilância do campo, resistindo a todas as provações e colorindo com sua singela beleza aquele quadro tristemente monocromático. Lá estava ela, próxima das cercas elétricas, resistindo e corajosamente esperando que mãos dignas a viessem colher.

1 commentaire:

Anonyme a dit…

texto denso, rocha.
gostei demais. :)

beijo, beijo.