Olhava tristemente para aquela caixa. Tudo que ele pode juntar durante vinte e oito anos de empresa estavam dentro dela. Era uma cena quase bucólica, aquele senhor de cabelos brancos admirando sua sala vazia.
Milhares de coisas iam e vinham na sua cabeça. Imaginava o que ia dizer à sua mulher quando chegasse em casa. Como iria olhar nos olhos de seus filhos e dizer que tudo que tinha ganho em tanto tempo de empresa cabia numa simples caixa de papelão? Não sabia o que fazer.
Como poderia ter sido? Como, depois de dedicar toda sua vida àquela firma, iria terminar assim, sem sequer um agradecimento? Não podia aceitar.
Veio de repente o ímpeto de subir à sala de seu chefe, que tinha metade da sua idade, e dizer o quanto aquele moleque era inútil e odiado no escritório. Chegou até a porta, torceu a maçaneta, mas acabou por desistir e perceber que aquilo não iria adiantar de nada.
Voltou-se para a janela de sua sala, que tinha uma bela vista para o mar. Abriu o vidro e sentiu a brisa nos seus cabelos grisalhos mais uma vez. Como sentiria falta daquele lugar. Nunca fizera outra coisa na vida, e os seus 55 anos por certo garantiriam que não fizesse mais algo no futuro.
Via-se perdido diante daquela surpresa que o atingira exatamente no dia do seu aniversário. Tinha vergonha de ir à sua casa e encontrar os amigos, que certamente o esperavam àquela hora.
Ponderava toda a sua vida, e aquela brisa parecia cada vez mais o atrair para uma viagem que não teria volta.
Não sabia o que fazer.
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2 commentaires:
É, grande Rocha, as coisas funcionam assim. A gente se esforça, se dedica, se priva, dá o sangue, e o reconhecimento... Ainda foi muito essa caixa de papelão. Há vários "reconhecimentos" que cabem em latinhas, envelopes, na palma da mão, etc. Alguns são tão diminutos, que se perdem no vento.
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